\”Cheque-marketing\”


14/08/2005

Bons tempos aqueles em que algumas discussões do colégio se limitavam à dicotomia: propaganda é boa ou ruim?

Lembro-me que o exemplo mais utilizado era o das campanhas de cigarros. Crianças começavam a fumar vendo lindas propagandas da Hollywood ou Marlboro.
Os tempos mudaram.

Ouvindo Duda Mendonça, por volta das 22h10 da noite, dando seu depoimento a um parlamentar, me dei por conta que as discussões do colégio vão continuar sobre o mesmo tema, mas o exemplo vai mudar.

Um deputado que não me recordo o nome (foram tantos) repetiu em alto e bom tom “Vossa senhoria, com toda a sua competência, induziu o Brasil a um erro”.

Trabalho com marketing, pago minhas contas com marketing, adoro marketing e escutei boa parte do depoimento de Duda Mendonça de queixo caído. Mais do que nunca as discussões do colégio, em que minha opinião sempre fora “a propaganda não é ruim, ruins são os que fazem mau uso dela”, vieram à minha mente. A minha opinião não mudou de lá para cá, mas me fez olhar para o marketing com mais responsabilidade.

Sem julgar as palavras de Duda Mendonça, não o considero aqui um mau-caráter ou um canalha, mas sim, um excelente profissional, um Harry Potter que tem o poder mágico de, segundo o contratante, mudar o destino de um país com sua magia. Falando de mágica, segundo tantos livros e lendas, ela não é nem boa, nem ruim. Ruim são os que fazem mau uso dela.

Em alguma parte do depoimento, de 10 horas de duração, Duda Mendonça afirmou acreditar, à época da eleição, nas intenções do presidente Lula, e, quando perguntado se ainda tinha tal crença, disse “achar que sim”.
Será que o criador não crê tanto assim em sua criatura? Uma pergunta que só Duda poderá responder.

Vê-se claramente em Duda Mendonça, um galo em final de rinha, exausto. Um Duda que não tinha mais forças para responder as perguntas, ora arrogantes, ora solidárias. Segundo ele mesmo, “um massacre”. Escutando o depoimento pelo rádio, nota-se a empáfia de alguns políticos, que, numa posição de inquisitores, faltam somente atear fogo à tora em que Duda se encontraria amarrado, se estívessemos a poucos séculos atrás. Na realidade, há poucos séculos atrás, muitos naquele planalto já teriam passado pela mesma fogueira.

Porém, como um bom brasileiro, acredito em fantasmas, mas não acredito em políticos.
Quantos ali não estariam na mesma posição caso o escândalo fosse outro?
Quantos ali não estarão na mesma posição, se não forem espertos o suficiente ou se não agradarem ao senhor certo?

Em um país em que a Lei de Gérson é uma tônica da base ao planalto, não é de se admirar que Duda tenha aceitado receber dinheiro do governo do PT em uma transação no exterior. A diferença entre 11 milhões ou um mísero real não é tão grande quando o problema é cultural, não financeiro.

Muitos homens do poder vieram “de baixo”, como se diz por aí. Sobreviveram a um país que, sinceramente, não ajuda. Gérson, para muitos, não é um deboche, é um guia de sobrevivência.

Voltando às reflexões do colégio, minha visão a respeito da responsabilidade que um homem de marketing deve ter com seu público mudou em muito após esse episódio. Aquele que entende o mercado como ninguém e é capaz de brincar com a psicologia do consumidor elegendo personagens fictícios da mesma maneira como convence uma criança de doze anos a começar a fumar, deve ser mais responsável em termos de escolher o produto no qual colocará seu talento, a escolha é pela ética, não pelo “budget”.

Não afirmo, como o deputado disse, que Duda é culpado, antes de tudo, porque induziu o Brasil ao erro. Considero essa uma visão extremamente míope e demagoga vinda de um homem público. Se existe um culpado, é um sistema que começou a ser erigido há 6 décadas. Sejam os dirigentes de direita, neoliberais ou milicos, o sistema não mudou. Sempre primou pelo sucateamento da escola e da educação como um todo, e, o resultado deste em um povo subnutrido e mal tratado, só podia ser um: estamos vendo-o hoje.

Não culpo Duda.

O problema está longe de ser o que vemos na superfície do planalto. É profundo demais para ser resolvido remediando o sintoma. Freud explicaria melhor os desdobramentos de nossos atos recorrentes em más escolhas políticas. Os sintomas podem vir por diversos canais, mas a causa, é só uma. É essa que temos que perseguir promovendo uma CPI interna em cada um de nós. Todos somos um pouco culpados pela situação que estamos vendo no planalto e, se querem saber minha opinião, devíamos estar todos na CPI, todos respondendo perguntas. A começar pelos próprios parlamentares.

Conrado Adolpho Vaz é educador, publicitário, estrategista e palestrante. Escreve e ministra seminários, palestras e treinamentos em  webmarketing e marketing digital, marketing pessoal, marketing educacional, vendas, atendimento ao cliente e planejamento pessoal.
Siite: www.conrado.com.br

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