SPB apara as arestas do B2B

Daniela Braun Compensação em tempo real. A premissa do novo SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), implantado pelo Banco Central em abril deste ano, promete agilizar os negócios fechados eletronicamente. Antes mesmo da redução do limite da TED (Transferência Eletrônica Disponível) para R$ 5 mil, como forma de popularizar o uso do meio eletrônico em substituição aos tradicionais cheques e DOCs, o Banco Central já contava cerca de 180 mil transações por dia, somando R$ 220 milhões compensados pelo novo sistema. Considerando que o business-to-business envolve, além da Web, todas as transações de negócios feitas por meios eletrônicos, analistas e empresários do setor de e-commerce acreditam que as mudanças nos sistemas de pagamento destes ambientes é inevitável. “O impacto do SPB no B2B existiria de qualquer forma, independente da Internet. No entanto, somente o ambiente Web viabilizou o tráfego de dados em tempo real para a criação do novo sistema”, avalia Daniel Domeneghetti, diretor de estratégia da e-Consulting Corp. Atualmente, as formas de pagamento no mundo dos bits e bytes envolvem, além da moeda, os tradicionais boletos bancários (duplicatas), cheques, cartões de crédito – cuja aderência começa a ser trabalhada – e o depósito em conta. “Temos a possibilidade de emitir o boleto via Web, incluindo um roteiro na Internet para que a empresa cliente acople o modo de pagamento por boleto eletrônico no site”, detalha Augusto Kurovski, gerente de banco eletrônico do Banco do Brasil. Em relação ao débito em conta, o executivo do BB explica que os compradores podem acessar um gerenciador financeiro via Web, no qual a empresa indica apenas o destinatário da transferência. “Se o portal quer saber se a venda foi efetuada, tem um mecanismo online de consulta do pagamento”, complementa Kurovski. Neste campo, também entram em cena os sistemas de troca eletrônica de dados, ou EDI (Electronic Data Interchange), que ganham força em plataforma Web estabelecendo uma espécie de canal direto e seguro de transmissão de pacotes entre empresas. Dinheiro real e imediato Embora muito se fale sobre os negócios online, até o início do ano as transações financeiras não saíram dos meios tradicionais. Muitas, segundo os consultores, ainda permanecem no papel. “A maior parte das transações B2B não está em marketplaces, e a tendência é que as empresas continuem utilizando variados meios eletrônicos para realizar negócios”, observa Souvenir Zalla, CEO (Chief Executive Officer) e diretor de análises do Edge Group. Para Domeneghetti, da e-Consulting, a revolução começa antes do browser. “As empresas serão obrigadas a aprender a gerenciar seu fluxo de caixa, pois deixam de contar com a flexibilidade dos tradicionais trâmites bancários. Ou seja, com a redução de riscos promovida pelo SPB, qualquer erro aparece no ato”, alerta o executivo. À frente de um universo de 30 mil compradores e fornecedores ativos, 17 mil transações comerciais diárias e uma movimentação de US$ 2 bilhões gerada em 2001, Eduardo Nader, presidente do marketplace Mercado Eletrônico, revela que os negócios esperam pela construção de uma ponte para a compensação imediata. O vale do comércio Apesar da cultura corporativa ligada à valorização dos meios físicos e dos processos burocráticos ainda necessários do lado de fora da grande rede, o presidente do Mercado Eletrônico acredita que o novo sistema de pagamentos tornará a transação financeira alguns cliques mais próxima das negociações comerciais. Hoje, de acordo com Nader, o pagamento de um leilão reverso ou de uma compra por catálogo eletrônico é feito separadamente, utilizando a TED da forma tradicional (enviando os dados bancários, ou o link, para o banco da contratada). “Temos a parte de rastreamento logístico das empresas muito mais avançada do que a integração de sistemas financeiros”, compara Nader. Na visão de Augusto Kurovski, do BB, a segunda fase do SPB tende a fazer com que outros tipos de pagamentos, além da TED, sejam online. “Nos próximos seis meses veremos o mercado gerando uma série de subprodutos, por exemplo, uma TED identificada, para que o fornecedor inicie automaticamente a logística da mercadoria”, informa o executivo. Para o Mercado Eletrônico, o vale entre o B2B e o SPB pode ser ultrapassado em 60 dias. “Temos um cliente da área industrial que está se preparando para utilizar as transações do novo SPB integradas ao Mercado Eletrônico”, adianta o executivo. Última chamada Em um contexto mais amplo, além dos tradicionais processos de negócios, inevitavelmente a onda do SPB também chega aos sistemas de back office financeiro pouco avançados ou até inexistentes de pequenas e médias empresas, na opinião de Zalla, do Edge Group. “Com isso, empresas varejistas, por exemplo, terão de ser mais disciplinadas no gerenciamento de caixa”, observa o consultor que visualiza, neste processo, a oferta de ferramentas de adequação ao SPB com preços mais acessíveis, diante da escala de empresas de menor porte. “No processo de e-procurement”, exemplifica, “não basta oferecer o melhor preço ou ter um produto disponível se a empresa possui um trâmite de pagamento demorado”, observa o consultor, levantando um dos entraves para a ampliação de iniciativas de comércio eletrônico no País. “Acreditamos que o SPB deve favorecer o engajamento destas companhias em processos mais sofisticados de negócios eletrônicos”, prevê o diretor do Edge Group. Na prática, de janeiro a agosto, o SPB já impulsionou um crescimento de 115% nos serviços de transações eletrônicas do Banco do Brasil. “Se o recurso financeiro entra online, você tem condições de diminuir o risco da operação e iniciar a logística para o produto. E a Web é um dos canais com toda a aderência a este tipo de sistema, porque não há presença física de compradores e vendedores, incentivando a virtualização da moeda e a entrada de mais empresas neste segmento”, conclui Kurovski.

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