Propaganda no MySpace

15/03/2007

Rupert Murdoch tem novos planos para o MySpace: propaganda. O MySpace, pouco utilizado no Brasil, é como um Orkut. A diferença é que, se o Orkut é o site de relacionamentos preferencial para nós, o MySpace é o que os americanos usam. Agora, o site, que já reunia uma quantidade infindável de pessoas nos EUA, terá nova serventia para seu dono.

Pode revolucionar a internet – e isso não é necessariamente bom.

Murdoch é um velho australiano que fez carreira comprando jornais. Vinha de uma cidade pequena onde tinha um diário, avançou sobre a capital de seu país, dominou a mídia local. Como não havia o que fazer por lá, seguiu para a Grã Bretanha, fez mais dinheiro com tablóides. Aí comprou o Times, o jornal mais tradicional da Inglaterra.

O velho australiano não é conhecido pela fidelidade à ética jornalística. Usa, e sem pudores, seus veículos para angariar poder. Assim, na Inglaterra dos anos 80, pôs o que deu em serviço da primeira-ministra Margaret Thatcher. Era mais ou menos a época em que seguia para os EUA, onde comprou o New York Post – ele gosta de começar com os tablóides.

Nos EUA, hoje, Murdoch é dono do sistema Fox, que vai de estúdios de cinema à um canal de tevê, a FoxNews, especializada em notícias com uma pitada do sensacional e a serviço do governo Bush. O velho capo da mídia, que sempre demonstrou faro apurado para negócios, havia perdido o bonde da internet até o momento em que, dois anos atrás, tirou dinheiro do bolso para comprar o MySpace.

Perdido o bonde é modo de dizer. Isso é o que se comentava. Outra forma de dizer é que o faro jamais falhou – e ele comprou um dos sites mais visitados dos EUA pagando pouco mais de 300 milhões de dólares no momento em que, finalmente, a rede ficaria de fato importante. Pagou um troco, afinal, quando comparado ao 1,6 bilhão gasto pelo Google para levar o YouTube.

O problema sempre foi como converter muitos visitantes diários em dinheiro grande. Os novos planos de Murdoch, que começam a ser postos em prática neste ano, envolvem propaganda orientada. Um novo software vai correr todos os perfis do MySpace para angariar relatórios detalhados de todos os usuários. Estes relatórios virão com idade, etnia, origem cultural, local onde vive e local de onde vem – as coisas que bancos de dados de cartão de crédito ou assinaturas de revistas costumam ter.

Mas como os dados vêm de um site de relacionamentos, haverá mais para Murdoch colher. Além dos números demográficos, gostos. Se o sujeito tem gatos ou cães, se gosta de vídeo-games, que tipo de música ouve, que livros lê – se é que música ou livros lhe sejam importantes.

Tendo essas fichas, é fácil responder a uma pet shop interessada em pagar um pouco mais pelo anúncio se tiver certeza de que todos os recipientes do reclame têm gatos.

A promoção de ração vai atrair muito mais clientes, claro. Idem para os que gostam de rap – ou para os que preferem Sherlock Holmes.

O grosso da propaganda na internet, hoje, é spam. Não importa se o sujeito tem ou não interesse em Viagra, ele receberá mensagens azucrinando. Nesse universo, não é má a idéia de que, mesmo que você continue recebendo anúncios, ao menos o assunto é de seu interesse.

Mas há um perigo aí, inevitável. Quando pôs seus quem sois no MySpace – ou no Orkut, ou no YouTube -, o usuário imaginou que pessoas visitariam aquele espaço. O que não pensou foi que grandes empresas transformariam suas coisas íntimas em ficha corrida.

Um governo pode decidir que gente com interesse no Islã, por exemplo, é perigosa e um pouco mais suspeita. Vai acontecer, mas é a tal história: a privacidade acaba de diminuir um pouco mais.

Please rate this

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.