Os jovens e a tecnologia

25/07/2007
 
Foram seis meses de trabalho para chegar a um estudo que derruba diversos mitos sobre a relação do jovem com a tecnologia, o que acaba por revelar aprendizados sobre como pensa esse mercado consumidor. A equipe de Gestão de Conhecimento da Ipsos, área especializada responsável pelo estudo, ouviu jovens de 13 a 24 anos.
 
“Muito tem se falado sobre o assunto, e não é segredo que as novas tecnologias revolucionaram o planeta, mas ainda estamos assistindo aos resultados desta revolução que está apenas começando”, explica Raquel Siqueira, diretora da área especializada de Gestão de Conhecimento na Ipsos e responsável pelo projeto (ouça entrevista). Os jovens que têm 20 e poucos anos hoje, nasceram no início da era da informática, quando o primeiro computador pessoal foi criado, nos anos 80. A internet popularizou-se, cerca de 15 anos mais tarde, na adolescência desta geração.
 
O adolescente de classe média faz pesquisas na internet, assiste à televisão, ouve música, manda mensagens pelo celular e participa de múltiplos chats e fóruns de discussão online, tudo ao mesmo tempo. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos mais recentes favorecem a mobilidade. Com o advento do wireless e o desenvolvimento de aparelhos e dispositivos portáteis, a rua torna-se uma extensão do universo privado. O celular ou o laptop são os portais de acesso à riqueza e multiplicidade da existência virtual. Esta mobilidade resulta em uma sensação de liberdade e percepção de que se tem o mundo inteiro nas próprias mãos.
 
Para Raquel, por ser uma mudança recente, há ainda um descompasso entre teoria e prática e falta conhecimento sobre esse consumidor, por isso, os mitos existentes sobre o assunto e a importância do estudo. “Um dos mitos é que a juventude de hoje é um enigma e que eles são muito diferentes do jovem do passado. Na verdade, a juventude de hoje assusta muito mais os mais velhos, que se sentem acuados em relação a esta nova geração. Mas isso não significa que este jovem seja fundamentalmente diferente do jovem do passado”, diz a diretora. Segundo a pesquisa, algumas características chaves da juventude mantêm-se e até se fortalecem. Questões como: o desejo de pertencimento ao grupo, predominância dos amigos como autoridade e referência, a insegurança característica da idade, a voracidade, o imediatismo, por exemplo, são facilmente identificadas neste público. 
 
Na verdade, a internet e os meios digitais nada mais são que novas ferramentas que permitem que este jovem manifeste e viva esta fase da vida de acordo com suas necessidades e características próprias de uma forma diferente. Segundo Raquel, as ferramentas tecnológicas deram asas à juventude, os computadores armados com software de navegação e telefones móveis tornaram-se tecnologias desejáveis por “ativarem” nos jovens valores que estes sempre perseguiram – como as idéias de liberdade, independência e velocidade.

Outro mito é que todo jovem gosta e entende de tudo de tecnologia. Há diversas formas e manifestações da tecnologia: internet, games, vídeos, fotos etc., e, segundo a pesquisa, nem sempre, quem é bom ou entende de um tema, entende de outro. Há ramos de interesses bem distintos e que atraem jovens de diferentes perfis. “Um jovem aficionado em games, por exemplo, pode não ter o mesmo perfil atitudinal que um jovem que transita e é ‘viciado’ em Orkut ou MSN. Um jovem com perfil criativo pode, por exemplo, usar os meios digitais para produzir conteúdo (blogs, vídeos, etc.). Já um jovem “festeiro”, por exemplo, pode dar vazão a s eu perfil gregário a partir de ferramentas de interação, como chats”, explica a diretora.

Outro mito é de que o jovem de hoje é cercado por relações virtuais e impessoais. A pesquisa revelou o contrário, pois a vida do jovem no “mundo virtual” é extremante permeada por elementos emocionais que conferem afetividade e conexão interpessoal (real) nas suas relações.
 
O Brasil está entre os três países com maior número de usuários do Orkut – um dos sites de relacionamento de maior sucesso mundial. Segundo dados do próprio Orkut, dos 32 milhões de perfis cadastrados, 61,9% se declaram brasileiros. Entre janeiro e março de 2007, a Ipsos Marplan/EGM sondou jovens dos 13 aos 24 anos e constatou que 55% dos jovens de classes AB dos 13 aos 17 anos concordam ou concordam muito com a frase “não me imagino sem internet”.
 
O meio pode ser virtual, mas o jovem lida com sentimentos reais, com questões e problemáticas reais, nas suas aventuras pelo universo digital. Nada mais real do que a paquera ou a fofoca que rola no MSN. “A sensação de proximidade com a turma, o sentimento de pertencer a uma determinada comunidade, a abordagem e o contato com o sexo oposto fazem parte de um rol de situações reais, que transmitem sensações verdadeiras e que ajudam a criar conexões e identidades mais do que legítimas, autênticas e reais”, completa.
 
A tecnologia se tornou a ferramenta da afirmação autônoma dos jovens no mundo e um meio desses jovens se lançarem no universo social, ainda que virtual, um lugar onde eles exercitam critérios de amizade e onde buscam padrões de comportamento. Jovens não costumam apreciar burocracias e intermediações e, na internet, seus desejos são acessados diretamente – como exemplificado pelo rápido download de arquivos mp3. “A tecnologia parece ajudar os jovens a lidar com os dilemas típicos dessa faixa etária – identidade, personalidade, desejos e auto-expressão”, finaliza Raquel.
 

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