Ninguém agüenta tanto \”spam\”


05/06/2004

Você sabe que “spam” é aquela correspondência indesejada que lota rapidamente sua caixa de entrada. Os assuntos são os mais incríveis. Há uma grande incidência de empréstimos imediatos, cura de calvície e aumento do tamanho do pênis, ainda que seu “e-mail” evidencie que você é uma mulher! Se não entupisse sua caixa para outras correspondências, dava para agüentar. É verdade que Você se acostuma a apagá-los rapidamente, mesmo com risco de perder algum “e-mail” “quente”, mas sempre consome seu precioso tempo.

As empresas, principalmente, estão vendo se conseguem um jeito de reduzir os custos para suportarem essa torrente.

Alguns grandes nomes, como Microsoft e Yahoo! estão desenvolvendo programas para lidar com esse problema. A empresa de Bill Gates, por exemplo, está desenvolvendo um “plug-in” no Outlook que habilitará seus usuários a cobrar uma tarifa das pessoas desconhecidas que fazem questão de lhe dizer algo.

Já Yahoo! está trabalhando com a Goodmail, uma especialista em “e-mail”, no desenvolvimento de uma rede de postagem destinada a cobrar uma certa tarifa de remetentes de grandes volumes. Ambas prometem estar disponíveis até o final deste ano.

Seja qual for a idéia, ela depende diretamente da cumplicidade do usuário e o brasileiro tolera bem essas invasões. Em nosso convívio tem até quem goste dessa “loteria randômica” de “e-mails” indesejados. Nos Estados Unidos, duas pesquisas revelam que lá, o interesse em acabar com o “spam” também não é tão desejado assim. 78% dos consulentes do Wall Street Journal “on line” não querem de jeito nenhum pagar algum com o propósito de eliminar o “spam”. Outra pesquisa da “1to1.com” revela que 69% de seus visitantes não acreditam que cobrar por “spam” vai resolver o problema.

Como sempre, as companhias querem resolver o problema sem depender dos usuários, ainda que caiam em alguma perigosa armadilha.

As companhias só se dedicam ao tema porque lhes custa algum dinheiro, pouco ligando para os problemas dos usuários afirma Jim Nail, principal analista da firma Forrester Research. Ele acredita que um sistema desse só funcionaria se fosse limitado aos remetentes comerciais e não aos consumidores.

A grande preocupação das empresas que cuidam do assunto é preservar os gastos dos remetentes, esquecendo-se de nós, os consumidores. O dinheiro dos marqueteiros tem que vir de algum lugar e seus clientes estão mais ocupados com seus planos de negócios do que em cuidar do interesse dos consumidores.

Richard Gingras, CEO da Goodmail (a parceira), afirma que a única solução que vai funcionar é aquela que não cobrar nada dos consumidores. “Nós não acreditamos nem um pouco na hipótese dos consumidores pagarem pela postagem”. No modelo que ele bolou os remetentes massivos (aqueles que mandam mais de 1.000 mensagens por mês) pagarão uma tarifa de postagem ao seu provedor de serviços da Internet. O preço a pagar vai depender do seu ramo e do tipo de mensagem.

Gingras acredita ainda que o sistema vai criar um tipo de “correspondência autorizada”, que vai permitir só aquilo que o consumidor quiser receber.”Com essa autorização o valor do “e-mail” só vai crescer e estamos tentando isso”. Lembra ele que o “e-mail” é o mais poderoso meio de comunicação que nós jamais conhecemos, e devemos fazer tudo para mantê-lo assim”. Gingras não acredita num cenário no qual o consumidor pague pela postagem. Há uma sensação de que o “e-mail” sai de graça, mas na realidade o remetente sempre incorre em alguns custos, seja na produção seja com o provedor.

“Estamos tentando assegurar que os custos sejam os mais baixos possíveis, satisfazendo a expectativa dos destinatários dos ‘e-mails’, diz ele.

Peso no orçamento: vem aí a postagem de “e-mails”

Prepare-se, se está pensando em utilizar-se de comunicações de massa por meio do “e-mail”. Tudo indica que em menos de um ano os problemas com o “spam” vão ser resolvidos por via econômica, mais do que pela via tecnológica. Entenda simplesmente que os portais de “e-mails” estão loucos e prontos para cobrar tarifas.

Sonia Arrison, analista do Instituto de Pesquisas do Pacífico diz: “As pessoas falam muito sério sobre esse assunto e eu tenho absoluta certeza de que em menos de um ano as companhias terão que pagar a um provedor de Internet para remeter correspondência agrupada. Bill Gates disse recentemente que o problema do “spam” vai ser resolvido em dois anos. Eu penso que ele está sendo muito conservador. Tudo está sinalizando para uma solução econômica já que as soluções tecnológicas não funcionaram”. Gates pronunciou essas palavras no dia 1.º de fevereiro no Fórum de Davos, na Suíça. Ele falou em dois anos por motivos de natureza técnica. Gates se referia ao “plug-in” do Outlook já mencionado, enquanto a Yahoo está pronta com um beta teste de um sistema (Goodmail) que exige dos remetentes de grandes volumes que paguem uma tarifa de postagem que será inserida no cabeçalho de cada mensagem.

Arrison é autora de uma monografia recente intitulada “Enlatar spam: uma solução econômica para e-mails indesejados”. Ela afirma que o “spam” prolifera porque é grátis e por isso torná-lo um serviço pago será a melhor solução para nos livrarmos dele.

Todos esses sistemas estão em discussão há mais de um ano, e só agora é que foram colocados na berlinda. Para os remetentes de “spam” esse pode ser o início do fim, pois qualquer tarifa vai encarecer o negócio e um símbolo de postagem no cabeçalho vai facilitar a separação do que é “spam” do que não é.

Para os legítimos remetentes de e-mails a situação é bem mais complicada. Muitas companhias investiram dinheiro e esforços desenvolvendo comunicações via “e-mail” como uma estratégia para manter um bom relacionamento com seus clientes e o ataque ao “spam” vem restringindo essa prática. Primeiro o “e-mail” indesejado é atacado pela confusão que cria com seu volume e agora pelo “spam”. Então aparece um ameaçador clima de regulamentos. E o muito efetivo método para manter e fidelizar clientes pode vir a ser totalmente queimado e agravado por altos custos e riscos.

Kevin Johnson, da Digital Impact, fala em frustração quando se refere a “e-mails” em nossos dias, mas acha que essas mudanças podem melhorar as coisas para os legítimos marqueteiros. Ele não acredita nas soluções tecnológicas. Mas acredita que uma tarifa vai reduzir o “spam” e aumentar os ganhos das campanhas apoiadas em autorização.

Você poderia contestar que isso vai criar um melhor ambiente para “e-mails” baseados em permissão, mas agora as companhias devem fortalecer sua permissão. As regras devem se tornar muito claras, expondo quando um consumidor vai ser contatado, quando o será e com que freqüência. A importância da oferta e a força da comunicação são essenciais.

É preciso pensar no que vai acontecer com a concorrência entre os provedores de “e-mails”. Como será a tabela de preços para a expedição de grandes volumes entre Yahoo, Microsoft e AOL? Ao menos desta vez, diz Johnson, as companhias que expedem “e-mails” têm todas o que perder neste jogo.

 

José Roberto Ferreira de Almeida, General Manager da Louis Allen do Brasil (www.laii.com), é consultor para o Desenvolvimento de equipes gerenciais, de vendas e de atendimento.

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