E a classe C chega à internet!


19/02/2006

Há algum tempo tive uma grande satisfação de encontrar, no jornal Zero Hora, uma reportagem que tratava sobre diversos “cases” de pessoas que estavam ingressando no mundo virtual e até mesmo obtendo sucesso nele. Estudantes descobrindo as vantagens da pesquisa e formação através da web ou trabalhadores (ou seria melhor dizer desempregados?) encontrando na internet formas de progredir financeiramente.

Até aí tudo normal, não fosse pelo fato de que as pessoas citadas na reportagem pertencessem a classes sociais de menor poder aquisitivo, ou, em alguns casos, de quase nenhum. Como o papeleiro Margo Maragato, de 44 anos, que de tanto modificar códigos de páginas para observar o que acontecia, passou a dominar a internet ao ponto de, hoje, estar utilizando linguagens como XML e PHP para programação de web sites, mesmo que utilizando ainda apenas os dois dedos indicadores para digitar.

Além dos enormes benefícios em diversas áreas para pessoas normalmente privadas dos progressos tecnológicos, desde a educação até a geração de renda, a popularização da internet vai ajudar a fortalecer nessas pessoas, o conceito de cidadania. A democratização da internet faz com que pessoas de diferentes classes sociais tenham acesso a todo tipo de informação, lazer, serviços ou produtos.

Não podemos deixar de considerar que, fatores como a banda larga, por exemplo, que traz melhores condições de navegação, por enquanto ainda tem um custo elevado. Por exemplo: segundo dados apurados pela consultoria e-bit, mais de 80% das compras online realizadas em dezembro foram feitas por internautas com conexões de alta velocidade. Mas diversos sinais mostram que também o acesso em banda larga está, aos poucos, se tornando viável.

Alguns indicadores já mostram uma expansão da internet em direção a classes de menor renda também no que diz respeito ao comércio eletrônico. Um estudo feito pela mesma e-bit, mostrou que as compras on line realizadas por consumidores localizados em regiões de menor renda per capita, como o Norte e o Nordeste do Brasil, vêm aumentando. Grandes empresas de vendas pela internet, como o Magazine Luiza, estão adotando estratégias de aproximação a classes menos favorecidas para trazer para o comércio online um público que, há pouco, não tinha intimidade nenhuma com esse ambiente de compras.

Outro dado importante diz que em 2005 as compras pela internet ficaram mais baratas, principalmente em dezembro. Isto porque houve um recuo de 1,64% nos preços praticados no comércio eletrônico, após a inflação de 0,54% verificada em novembro.

O Programa de Inclusão Digital, do Governo Federal, que irá facilitar a aquisição de computadores abaixo de R$ 1.000,00 com pagamento facilitado, além da inclusão de equipamentos na maior parte das escolas públicas do país e em pontos de acesso à internet para a população de bairros e cidades mais pobres, são medidas concretas que estão contribuindo para a tão aguardada democratização da internet.

Fatos como esses são impulsos valiosos para que moradores da periferia ou com poucos recursos, usem mais o computador. O uso da internet também ajuda a reduzir índices de analfabetismo funcional (quando a pessoa tem apenas noções de leitura) e dá oportunidade para qualificar profissionais. Se as pessoas já têm, naturalmente, curiosidade em usar a ferramenta, imaginem o que pode acontecer quando a web finalmente se tornar acessível à maior parte da população.

Está na hora dos governos e das grandes empresas de tecnologia e telecomunicações passarem a pensar objetivamente e adotarem mais medidas no sentido de facilitar o uso da internet. Atitudes como essas seriam medidas pró-ativas voltadas para diminuição das diferenças sociais, redistribuição de renda e criação de melhores condições de vida para populações menos favorecidas. Isso sem falar em uma economia mais aquecida. Mas esse assunto fica pra outro dia.

Ricardo Prates Morais é editor da emarket News e consultor da emarket (www.emarket.ppg.br), agência de marketing e publicidade online.

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