Criadores do Skype querem mudar TV na web

05/02/2007

O sueco Niklas Zennström, de 40 anos, e o dinamarquês Janus Friis, de 30, fizeram história no mundo da tecnologia. Eles promoveram duas revoluções nos últimos anos – e isso não é só força de expressão. Em 2000, inventaram o KaZaA, um programa que permitia trocar músicas grátis pela internet e abalou para sempre os alicerces da indústria fonográfica.

Foi a partir do KaZaA que surgiram os sites da Web 2.0, como o YouTube e o Flickr, em que os próprios internautas podem produzir e distribuir o conteúdo na internet. E foi por causa do KaZaA que as gravadoras passaram a vender músicas pela internet, quando perceberam que o compartilhamento de músicas entre os usuários era uma tendência irreversível. Quatro anos depois, Zennström e Friis inovaram novamente.

Dessa vez, eles subverteram a ordem do mercado de telefonia. Inventaram o Skype, um programa que permitiu usar o computador como um telefone convencional, só que pagando mais barato pelas ligações. Isso obrigou as empresas de telecomunicações a baixar as tarifas e se adaptar à nova tecnologia de transmissão de voz pela internet.

Na semana passada, os “gênios escandinavos”, como ficaram conhecidos, voltaram à carga. O alvo, agora, foi a televisão. Eles anunciaram o lançamento do Joost (fala-se ió-ost), um programa que vai permitir a transmissão de imagens de TV pela rede.

De acordo com os especialistas, o Joost é uma espécie de versão “séria” do YouTube. Mas, ao contrário do site de vídeos, que permite que os usuários compartilhem seus próprios filmes – muitos deles copiados livremente da TV e dos DVDs, sem pagamento de direitos autorais -, o Joost só será usado para distribuir conteúdo produzido pelas grandes empresas de mídia. Já fechou acordos para transmitir shows musicais da Warner Music, programas da holandesa Endemol (que produz o Big Brother) e corridas de Fórmula Indy.

Os programas não terão horário fixo. Os usuários poderão assistir a programas de TV no computador de graça e na hora que bem entenderem. Assim como o Skype, o Joost poderá ser baixado gratuitamente. Os internautas só terão de preencher um cadastro com algumas informações pessoais, como o gosto musical e os tipos de programa a que gostariam de ver (leia o quadro na página seguinte).

O software ainda está em teste e não tem data marcada para entrar no ar. Mas, desde já, causou alvoroço entre as emissoras convencionais. A Time Warner, maior grupo de mídia do mundo, anunciou que está em fase final de testes de um projeto experimental de TV pela internet. A CBS, uma das maiores redes de TV americanas, informou que vai transmitir todos os jogos do campeonato americano de basquete universitário deste ano pela web. “Zennström e Friis são a dupla mais temida do mundo da tecnologia depois de Larry Page e Sergey Brin, os criadores do Google”, afirmou a revista americana Wired, uma referência mundial em inovação. “Por onde passam, eles arrumam encrenca com quem estiver na frente.”

O Joost promete causar às emissoras de TV um efeito semelhante ao que o Skype provocou nas operadoras de telefonia: vai forçá-las a se mover para a internet mais rapidamente do que gostariam. Até agora, os principais canais da Europa e dos Estados Unidos se mostraram tímidos na web.

Eles até vendem programas por download há algum tempo, mas não se arriscam a oferecer seus principais programas pela rede. Temem que o conteúdo seja pirateado e, principalmente, que as receitas publicitárias convencionais diminuam de forma dramática. “Muitas emissoras enxergam a internet como uma ameaça. Isso tem de mudar”, disse a ÉPOCA Mike Dunn, presidente mundial da Fox. “Temos de enxergar a web como um poderoso canal para distribuição de conteúdo. Senão, vamos padecer.”

O Joost vai permitir que os internautas assistam aos programas de TV na hora que bem entenderem

Com o Joost, as agências de publicidade e os anunciantes poderão atingir o público que desejam com muito mais precisão. Será possível veicular anúncios sob medida para os internautas, de acordo com os cadastros deles no Joost.

Já os grandes produtores de conteúdo terão mais um canal para distribuir seus programas. Isto é, se eles aderirem ao serviço. “Os únicos ameaçados pelo Joost serão as emissoras de TV que não entrarem na internet”, afirma David Clark, ex-diretor da MTV americana, que foi contratado para comandar a operação publicitária de lançamento do software em Nova York. “As emissoras estão preocupadas justamente porque o Joost é um negócio sério e blindado em relação à pirataria”, disse Andrew Lippman, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), durante uma conferência na semana passada em Washington. “Ninguém encara o YouTube como um competidor, porque ele é amador demais”, diz. “Já o Joost é um rival sério. As emissoras têm duas alternativas: ou se juntam a ele ou competem com ele. Não será possível ficar indiferente.”

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