Comércio eletrônico contra a crise na América Latina

16/03/2009

A indústria chilena Somela é uma máquina de exportar: 70% das vendas são principalmente para outros países sul-americanos, como Venezuela, Colômbia e Equador, para onde envia aspiradores de pó e secadoras de roupa. O mais curioso é que para chegar a esse resultado, a empresa não participa de feiras comerciais ou envia representantes para outros países. Seus clientes encontram sua lista de produtos com características, preços e especificações técnicas na internet.

Acesso a um número muito maior de clientes, possibilidade de venda 24 hs/dia e menores despesas que uma loja tradicional são alguns atrativos desse modelo de negócio. Aproveitar a internet para potencializar vendas é uma tarefa que deve envolver empresas de todos os portes. Lamentavelmente, os pequenos empresários da América Latina ainda olham com ceticismo para a internet, mantém sites precários e não prosperam. Recentemente, a consultoria de comércio exterior RGX de Buenos Aires realizou um estudo com 721 pequenas e médias empresas de 15 países latino-americanos e constatou que 70% das empresas exportadoras têm apenas uma presença básica na web. 28% das empresas consultadas afirmam ter apenas um site institucional e, entre aquelas que apresentam produtos no site, 33% não oferecem a possibilidade de compras ou de receber pedidos.

Mas isso está mudando. Um estudo elaborado no ano passado pela AmericaEconomia Intelligence, revelou que em 2007 as vendas online na América Latina chegaram a US$ 10,9 bilhões. Nos últimos dois anos, o e-commerce cresceu 121% na região, sendo que na Venezuela, o crescimento foi de 224%, no Chile, 183%, México, 143% e no Brasil, 116%.  Este aumento se deve aos avanços da tecnologia e mudanças de comportamento dos consumidores, além do constante crescimento econômico da região.

A empresa e-bit, especializada em e-commerce, registrou que em 2008 o comércio eletrônico faturou R$ 8,2 bilhões no Brasil, 30% superior a 2007. Esse resultado, apesar de um pouco inferior à expectativa que era de 35%, mostra que a crise financeira mundial não afetou este ramo da economia.  Neste início de 2009, quando ainda temos no Brasil, mais uma expectativa de crise do que uma crise propriamente, a indicação é que o crescimento das vendas online fique um pouco abaixo de 30%.

Apesar disso, sobram motivos para as empresas investirem mais na internet como uma ferramenta de negócios e mola propulsora de vendas. A principal razão pode ser a própria expectativa de crise. Afinal, se o dinheiro não será tão abundante em 2009, conforme as previsões, nada mais indicado que as empresas insistam em uma alternativa de negócio de baixo custo que lhes dê grande visibilidade.

Outro dado indicativo da necessidade e potencialidade de crescimento dos negócios online é que, na AL 30% das compras online é realizada por consumidores fora de seu país de origem e nos países que o e-commerce está menos desenvolvido, as transações internacionais podem chegar a 90%. Quer mais? Os mais jovens lideram as compras pela internet. Com o tempo, as novas gerações, totalmente ambientadas com a internet, vão comprar cada vez mais utilizando a web.

Quanto ao número de internautas, o Brasil já é o sexto país no mundo e o primeiro do ranking latino com mais de 50 milhões de internautas e 7 milhões de consumidores, o maior em termos absolutos. O país com maior percentual da população consumidora na internet é o Chile, com 12,7% das pessoas usando a web para compras, seguido por Porto Rico (11,6%), Peru (9,8%), Costa Rica (7,5%), Argentina (5,2%) e Colômbia (4%). O Brasil está em sétimo, com 3,7%, mesmo índice de El Salvador.

A popularização da internet, das conexões de banda larga e dos cartões de crédito, inclusive entre as classes de menor renda, também contribuíram para esse crescimento.

O mercado de internet vem a mais de uma década crescendo e se consolidando em diferentes áreas como informação, educação e lazer. É possível que os negócios online estejam progredindo mais lentamente, mas tudo que foi dito até aqui dá uma expectativa muito positiva para o desenvolvimento do comércio eletrônico.

Mas sem clientes não há negócio que resista. É também através da web que os empresários podem atrair clientes sem precisar investir muito. Nos Estados Unidos a internet já bateu todos os meios de comunicação e está empatada com a TV em termos de audiência. Uma pesquisa recente feita pela Pyramid Research estima que o mercado de publicidade online na América Latina deve crescer de US$ 549 milhões em 2008 para US$ 2.6 bilhões em 2013, ou 9% do bolo, diante dos 2% atuais. O estudo também estima um crescimento de 33% até 2013 nos negócios de e-commerce que hoje registram cerca de US$ 13 bilhões.

Certamente, o comércio eletrônico e a publicidade online serão aliados no caminho de crescimento da web como ferramenta para impulsionar negócios e também a economia.  Portanto, empresários, mãos à obra. Pensem bem, informem-se e verão que a internet pode ser um bom remédio contra a crise.

 
Ricardo Prates Morais é consultor em web marketing, diretor da agência emarket e editor do blog Publicidade na Web




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